Primeiro a infância

14/06/2021

“Existe um conflito que as crianças notam: os adultos amam-nas muito, embora não as escutem nada”. Francesco Tonucci toca com essa frase um ponto muito importante, não necessariamente querer bem faz com que escutemos nossas crianças. A participação social é um elemento essencial no pensamento de cidade em regimes democráticos. Tendo isso como premissa, uma cidade pensada para as crianças deve também ser pensada com as crianças.
Dentro desse arcabouço teórico somado ao da iniciativa Urban95 da Fundação Bernard van Leer, que traz como questionamento chave para gestores públicos e urbanistas tentarem entender como podem influenciar no desenvolvimento infantil “Se você pudesse vivenciar uma cidade a partir de 95 cm – a altura de uma criança de 3 anos – o que mudaria? ” e ao do Recife 500 anos, a ARIES (Agência Recife para Inovação e Estratégia) desenvolve o projeto Primeiro a Infância.


O projeto está sendo desenvolvido nos bairros da Iputinga e do Alto Santa Terezinha, apesar de cada território ter pequenas alterações pontuais, o processo aplicado nas duas comunidades foi o mesmo: Entender – Prototipar – Construir.


Indo ao encontro do que disse Tonucci, o Primeiro a Infância não busca apenas ouvir os adultos, pais, mães e cuidadores, mesmo sendo essa parte essencial também! Busca ouvir e dar voz às crianças das duas comunidades para tentar extrair o máximo dos anseios, dores, desejos e vontades desse grupo. Após uma extensa etapa de pesquisa é o momento de elaborar e colocar as primeiras ideias no papel e começar a esboçá-las em ações. O projeto teve, nessas comunidades, dois eixos bem definidos de ações: Intervenções Urbanas e Campanhas de Comunicação. No eixo de Intervenções Urbanas as vontades das crianças foram transformadas em intervenções efêmeras que buscavam entender como seria a interação da população nos dois territórios com aquelas novas ideias e novos espaços. A partir dessas duas primeiras fases é que foi desenvolvido o projeto das intervenções urbanas definitivas. Em paralelo no eixo de Campanhas de Comunicação o objetivo era tanto de levar conhecimento como fomentar novas habilidades nos moradores. Foram quase 2000 crianças, cuidadores, servidores do Compaz e moradores participando de oficinas, workshops, capacitações e palestras sobre temas como a conscientização sobre a importância do período da primeira infância no desenvolvimento infantil, como usar sling, brincar livre, alimentação, paternidade, empoderamento feminino entre outras tantas.


Após mais de 2 anos de trabalho temos a concretização do trabalho na forma de espaços públicos transformados em prol do desenvolvimento infantil. A Iputinga ganhou duas praças, a Arari Ferreira Fonseca e a “Do Lixo ao Luxo” (batizada carinhosamente desse jeito pelos moradores), e o Compaz ganhou a praça da Árvore além da requalificação nas calçadas do seu entorno. Os dois espaços têm a cara da ARIES, já desempenham a função de serem espaços de antecipação de futuro.

Pedro Mazzarolo

Gerente de projetos da ARIES

*Os artigos publicados não refletem, necessariamente, a opinião da organização.